A Mongolian elder and his

O idoso nas sociedades tradicionais

Ao tratar do tema sociedade tradicional deve-se delinear que a sociedade tradicional é aquela que possui um “conjunto de regras e costumes que com o decorrer do tempo vão se consolidando em uma espécie de direito consuetudinário regulando as relações de dependência”(FREYRE apud SOUZA). Assim, a sociedade tradicional se configura como uma sociedade que tem práticas e valores tradicionais, em geral transmitidas de maneira oral. Pretende este trabalho explorar tal relação entre comunidades quilombola, indígenas e ciganas para delinear as similaridades entre tais comunidades tradicionais existentes no Brasil.

Comunidades quilombolas

As sociedades tradicionais negras brasileiras, também chamadas de “Quilombolas” são formadas por negros, descendentes de pessoas que foram escravizadas e que se organizaram em quilombos, espaços que possibilitam a expressão de seus valores e práticas tradicionais, com base na ancestralidade escrava e africana. Essas comunidades configuram uma das expressões de resistência à história de exclusão social sofrida pelos negros no Brasil” (Santos et al, apud Benett, 2016).

Nestas comunidades a construção da memória coletiva pode traçar épocas antigas desde a escravidão (ocorrida no Brasil até o século XIX).  Antropologicamente, os depoimentos desta população idosa e seu conhecimento tácito acerca de fatos históricos é tão importante quanto o exame de qualquer documento histórico que, ao tratar destas populações é deveras escasso e pouco circunstacioso.

Considerando que “na comunidade quilombola a fala é a principal forma de expressão dos idosos e serve como um mecanismo de transmissão dos seus saberes para a posteridade. Isso significa que a utilização dos depoimentos de pessoas da terceira idade na construção da memória coletiva representa uma força unificadora que confere identidade (SANTOS, apud PORTER, 1993: 16), resgata tradições e costumes e influencia as práticas sociais”.

O Valor da Idade – Indígenas

Na cultura indígena, o Caciques e xamãs (os curandeiros) mais importantes são também os mais velhos. Os indígenas têm uma preservação cultural e costumes que são passados de gerações, por isso os idosos são especiais, pois carregam uma bagagem de experiências, sobre todo um povo, uma língua, como rituais e mitologias. A valorização dos saberes tradicionais e não só o respeito, mas também a admiração pelos idosos é indissociável da cultura ancestral. Não há exatamente essa separação explícita entre passado e presente, os ancestrais falecidos são consultados nas cerimônias espirituais, são parte da construção e da identidade de cada índio e a razão de ainda estarem vivos como povos e culturas.

Conversar com os mais velhos era a melhor forma de aprender em sociedades que não conheciam a escrita e muito menos outros tipos de tecnologia, os anciões são como bibliotecas ambulantes. Se morrem, morre todo o conhecimento que guardam. E os jovens precisam buscar e aprender com os mais velhos esse conhecimento.

A função social dos idosos junto às tribos indígenas é buscar um envelhecer sadio e repleto de sentido, sendo um momento no qual predomina uma atitude contemplativa com a vida, sem ser algo estático, e sim numa perspectiva reflexiva. E quem não tem essa sabedoria, despreza seus idosos descarta todo conhecimento, toda prudência e toda experiência que só a velhice nos revela.

Povo Cigano

Na cultura cigana os idosos são os merecedores da mais alta estima e respeito, sendo tratados como os detentores da sabedoria, da experiência de vida acumulada como se fosse uma biblioteca ambulante e os seus conselhos são ouvidos pelos jovens e adultos como sendo a voz do conhecimento aprendido na prática da vida e no dia-a-dia. Nada vai adiante em um acampamento cigano, sem antes ser ouvida a opinião do ancião, sempre a última palavra é dele.

Pela língua romany não possuir livros de tradução e a cultura cigana ser uma cultura oral, passada pelas gerações, os idosos são peça fundamental na transmissão do conhecimento e produção da história do seu povo.

Os anciãos são responsáveis pela transmissão oral dos ensinamentos e tradições, eles são considerados como sábio, o passado vivo e manda a tradição que os mais jovens beijem suas mãos em sinal de respeito.

Possuem lugar de destaque nas festividades e cerimônias, atuando também como conselheiros e consultores nos tribunais de justiça do clã. Um ancião nunca é desrespeitado, mesmo que sua decisão não seja a que a maioria do clã deseja.  Quando existe um problema familiar mais sério a palavra dos idosos é a que fala mais alto.

São cuidados com dignidade e muito carinho pelos demais e esta forma de tratamento faz com que se mantenham lúcidos até o final de sua vida. Os ciganos jamais abandonam os seus velhos.

Sociedade japonesa

O povo japonês é conhecido por seu viés tradicional, e não é para pouco, tendo em vista que sua população é consideravelmente mais velha.

A cultura dessas sociedades tem como tradição cuidar bem, glorificar e reverenciar seus idosos, resultado de uma educação milenar de dignidade e respeito. Os japoneses consultam seus anciãos antes de qualquer grande decisão, por considerarem seus conselhos sábios e experientes, o que os garante um papel social de indivíduo que alcançou um patamar elevado de desenvolvimento humano.

O respeito a sua população de mais idade é tão intrínseco à sociedade japonesa, que foi criado, em 1947, o Dia do Respeito ao Idoso, chamado tradicionalmente de Keiro no Hi, sendo comemorado na terceira segunda-feira de setembro.

No imaginário japonês, a velhice não é só sinônimo de conhecimento, experiência e sabedoria, mas respeitar ao idoso é honrar e celebrar a longevidade e a vida como um todo.

Conclusão

Ao analisarmos os grupos citados, observamos que a singularidade entre eles está na valorização da população da terceira idade. Em ambos os grupos, ficam evidentes que a transmissão do conhecimento é passada dos idosos para a geração mais jovem. Essa transmissão de conhecimento é tão importante que o relato oral tem o mesmo valor de um documento escrito.  A tradição oral é respeitada e seguida de uma forma que é passada de geração para geração, mantendo assim as características culturais de cada grupo. Este exemplo de comportamento poderia ser usado na sociedade em geral, pois, mesmos protegidos por leis, a população da terceira idade não tem o seu valor reconhecido e em muitos centros urbanos, conhecimentos do passado estão sendo guardados em asilos.

Fontes:

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