Diabetes 101

Alguns mitos sobre diabetes que não são discutidos com frequência entre leigos.

Dia desses estava numa loja especializada em produtos naturais no Rio de Janeiro e pedi ao atendente uma granola diet pois sou diabético tipo I. Não prestei muita atenção depois da compra, afinal é uma rede que estou acostumado a comprar e nunca tive qualquer intercorrência. Cheguei em casa e fui provar a granola: Deliciosa. No dia seguinte está lá minha glicemia a quase 300 mg/dl (o normal é entre 100 e 140 mg/dl para diabéticos e 70 a 120mg/dl para adultos sem diabetes). Aí mil cálculos começam a ser feitos e a dose de insulina aumenta, com isso o risco de hipoglicemia (e seus sintomas). Com a glicemia nesse patamar também não é indicado fazer exercícios e as alternativas são comer pouco, esperar a insulina fazer efeito e ficar se sentindo mal. Dois dias depois a glicemia voltou ao normal, a granola foi pro lixo e a desconfiança na rede foi criada.

Aqui cabe duas questões interessantes:

A primeira é que um trabalhador que desempenhe sua tarefa nesse tipo de comércio deve passar por extensivo treinamento acerca do tipo de alimento e produto fornecido, vez que da mesma maneira que um diabético, um hipertenso, uma pessoa com doença celíaca ou qualquer restrição alimentar busca esse tipo de loja especializada e por um erro pode ter sua saúde afetada de maneira negativa por conta de um atendimento inadequado.

Cabe registrar que é importante a toda pessoas que possui qualquer restrição alimentar ler os rótulos e saber exatamente qual alimento está ingerindo. A indústria geralmente possui as informações e há bastante variedade no mercado a ponto do consumidor construir uma marca de preferência principalmente embasando-se na questão do quanto afeta sua saúde (vez ou outra independente do preço).

A segunda questão é que não há divulgação suficiente das restrições e  desmistificação do assunto de responsabilidade alimentar o suficiente, inclusive até mesmo entre profissionais da saúde que vez ou outra são levados a diagnósticos incorretos ou orientações inadequadas. Uso aqui meu exemplo pois tive um diagnóstico tardio de diabetes tipo I (utilizei hipoglicemiantes orais por anos sem nenhuma necessidade) e por conta de cuidar dessa doença desde a adolescência, inclusive me informando sobre o assunto o máximo possível já passei por nutricionistas que pegam suas “receitas de bolo” com alimentos com índice glicêmico muito alto ou sabidamente elevador de glicemia e recomendando como adequado ao quadro de diabetes, também de profissionais da atenção básica da saúde que, com frequência, tratam ao paciente como se fosse a primeira consulta na vida, por exemplo, informando que este deve aderir à dieta ou ainda que valores da glicemia em números para pessoas não diabéticas devem ser iguais aos de pessoas diabéticas como meta.

Assim, desmistificar alguns assuntos torna-se necessário.

1 – Açúcar não causa diabetes

Não. Açúcar não causa diabetes, ao contrário, diabéticos podem comer açúcar (moderadamente ou em caso da glicemia ficar baixa demais). O açúcar aumenta a glicemia mas como alimento também é gasto muito rapidamente. O que “causa” a diabetes na verdade é a deficiência do pâncreas em secretar insulina (Diabetes tipo I) ou a inabilidade do corpo em processar a insulina secretada de maneira adequada (Diabetes tipo II). Pode-se dizer que no caso da diabetes tipo II a causa mais comum é uma dieta inadequada e a falta de exercícios, além do fator idade.

2 – Diet é diferente de light

Alimento diet não possui açúcar, não aumenta a glicose. Alimento light possui pouco açúcar ou outro componente (menos sal, menos gordura, etc). Não significa que o alimento diet ou light são mais saudáveis pois dependendo do tipo de alimento certamente o pensamento é: Qual substituição de ingredientes foi efetuada para chegar àquele sabor. Houve uma época que se substituiu o açúcar refinado por açúcar mascavo e agave no adoçar das coisas e vendido como light mas para o diabético o índice glicêmico dos três é prejudicial. Assim, diet não é light. Ah, e adoçante é diet, não aumenta a glicemia. Zero açúcar é um nome comercial para diet. Regra de ouro: se não estiver explicitamente escrito como “sem açúcar” tem açúcar de alguma forma.

3 – Diet não significa sem carboidratos

Agora que já se tem a noção do que é diet é importante compreender que, por exemplo, um biscoito diet não tem açúcar adicionado, significa que ele ainda possui açúcares naturais do próprio alimento (frutas, por exemplo) e os carboidratos. Açúcares são moléculas simples: Ingeriu virou energia; Carboidratos são moléculas complexas: Ingeriu, processou aí virou energia. Ou seja um prato de macarrão é comparável a uma colher de açúcar. A questão é que a colher de açúcar vai subir a glicemia imediatamente enquanto o macarrão vai subir sua glicemia aos poucos. Assim, controlar carboidratos também é parte da tarefa. Logo, diet e low carb são o ideal.

4 – Diabetes tipo I não produz insulina

A diabetes melittus vem em dois “sabores”  a tipo I, também chamada de diabetes juvenil que acomete em geral as pessoas desde cedo e tem como característica o corpo não ser capaz de produzir insulina ou produzir desde sempre pouca insulina a ponto de não ser capaz de processar a glicose dos alimentos adequadamente. O excesso de glicose nos órgão causa o espessamento do sangue e portanto a falta de irrigação dos órgãos. Além disso causa também a falta de entrega e processamento de nutrientes nestes órgãos levando à morte do paciente.

5 – Diabetes tipo 2 é resistente à insulina

O segundo “sabor” da diabetes é chamado de tipo 2 e geralmente ocorre em indivíduos mais velhos e na maior parte das vezes ocorre pelo organismo não conseguir processar adequadamente a insulina produzida (ou injetada) causando o mesmo destino da diabetes tipo 1. Em geral um controle com dieta e exercícios regulares ajudam a manter os índices glicêmicos controlados e muitas vezes é comum a utilização de hipoglicemiantes orais ao invés de insulina injetável conforme o caso da diabetes tipo I cujo controle não funciona com outros controles que não a insulina diretamente injetada.

6 – Tipo 1 sempre precisa de insulina e tipo 2 pode ser controlada com dieta e exercicios

Todo diabético deve aderir à dieta. Não é opcional. Os exercícios ajudam plenamente ao diabético manter o controle, estimular o processamento da insulina (injetada ou produzida) e manter uma vida relativamente normal.

Diabetes não tem cura mas pode ser controlada.

 

 

 


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